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quarta-feira, 20 de abril de 2005

INCONTORNÁVEL...

Não sendo católico, hesitei se deveria escrever sobre a eleição de ontem de Joseph Alois Ratzinger para o trono de S. Pedro, com o nome de Bento XVI. Católico ou não, o facto histórico parece-me incontornável e, para além do mais, assim mo solicitou o meu estimado e atento leitor Gonçalo Cordeiro.

Aqui vão, pois, algumas poucas notas sobre o facto.

Em primeiro lugar, e porque não sou católico devo afirmar que me satisfaria a eleição de um português: o Cardeal Patriarca de Lisboa (cujos dotes como condutor da Igreja não comento por diversas razões que não vêem ao caso). Chamem-lhe o que quiserem mas penso que seria interessante para Portugal.

Em segundo lugar sobre o passado do actual Papa. De imediato se levantaram vozes clamando contra o “papa nazi” (é espantoso verificar em pleno funcionamento estes complexos “pavlovianos”). E sobre isso, hoje que se comemora o 116 aniversário do nascimento de Adolf Hitler, importa alinhavar algumas notas. Bento XVI jamais foi nazi, a sua família era mesmo adversária do regime Nacional-Socialista, o que ocorreu é que de acordo com a lei alemã de 1936, ao atingir os 14 anos em 1941, o jovem Joseph foi integrado nas Juventude Hitleriana (tal como cá tantos “progressistas” pertenciam à Mocidade Portuguesa…alguns até lá ganhavam prémios…) e dois anos depois, num país em guerra, ao atingir os 16 anos foi integrado no serviço dos Flugzeugabwehrkanone (Artilharia de Defesa Antiaérea) na zona de Munique, tendo ainda servido em unidades de comunicações telefónicas e de defesa anti-tanque. Teria sido o percurso, absolutamente normal de qualquer alemão devoto à Pátria. Não o foi apenas porque, em Abril ou Maio de 1945, antes da rendição alemã, desertou (embora depois tenha estado num campo de prisioneiros até Junho desse ano). Como se vê trata-se de um desertor e não de um fervoroso Nacional-Socialista (e sabem os meus amigos que traições e deserções em qualquer momento e por qualquer razão me causam sempre uma espécie de urticária…não nos alonguemos). Só depois se inicia a sua vida religiosa da qual não cuido aqui.

Sobre a sua eleição como Papa. Não sei se será o homem certo. Os católicos que se preocupem com o assunto. Será conservador e ortodoxo? Talvez! Não o deverá ser a Igreja?

Não sou católico, mas como sabem os que me conhecem melhor, se fosse há muito teria seguido os Integristas do Monsenhor Lefevre. O catolicismo é, para mim, uma religião estranha aos mais intrínsecos valores europeus, transporta-nos para um universo de negação de prazeres, de ímpetos, de vontades e de muitas outras coisas inatas ao homem. Nada tenho, naturalmente, nada contra quem, com justeza, verdade e honestidade pretende seguir tal via (mas, oh deuses são tão poucos…). Não me parece é que, honra e proveito possa caber no mesmo saco; que para que alguns que se dizem católicos (mas sê-lo-ão de facto?) a Igreja se deva adequar à lassidão de normas morais contrárias à sua essência. Quem deve mudar são os católicos não a Igreja, são eles que devem estar em comunhão com a sua igreja e seus valores. Claro que isso é o mais difícil. Torna-se mais fácil, a uma sociedade profundamente desviada de valores e do culto da necessária dificuldade para os atingir, exigir à igreja que se adopte ao preservativo, ao aborto, à homossexualidade, aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, à eutanásia, etc… Pois parece-me que, pelo que se diz, o novo Papa está apenas no caminho em que a igreja deve estar.

É que isto, oh leitores, e desculpem-me a “heresia”, isto é como os clubes de futebol: ou se é ou se não é. Que sentido faria para mim, que sou do Benfica dizer que o era mas que queria/exigia que aquele clube apenas jogasse com uma bola quadrada???

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