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quinta-feira, 16 de junho de 2005

NEM PAREDES DE VIDRO…NEM O SOL TAPADO COM PENEIRA

Foi ontem a cremar o corpo do líder histórico dos comunistas portugueses. Não me tinha imaginado a comentar este assunto, mas a tal me impeliu o meu atento leitor Gonçalo Cordeiro.
Não o pensei fazer pois não me considero hipócrita e como tal não partilho o hábito de bem dizer post-mortem de quem sempre se combateu, criticou e de certa maneira odiou.
Em Portugal, assim que morrem certas personalidades (de “esquerda” claro, pois recordamos claramente o chorrilho de aleivosias proferido, por exemplo, quando da morte do General Kaúlza de Arriaga) ganham uma áurea mítica, quase mesmo mídica (se bem me entendem), tal é a rapidez com que se transformam de pouco mais que asnos em heróis imortais. A imagem confesso, não a cogitei sobre Cunhal mas antes sobre um seu “camarada” falecido pelos mesmos dias…
Sobre Cunhal há porém aspectos que merecem relevo e destaque: constância, verticalidade, crer, querer e indómita militância. E creiam-me não são nada pouco e cada vez mais tais atributos vão escasseando nas lusitanas paragens.
Não importa pois cuidar de outros aspectos. Se Cunhal foi perseguido e preso? Obviamente que sim! Como nós todos seríamos se o seu projecto de sociedade tivesse ido avante (que estranha ironia…), não é, aliás, difícil o exercício se atentarmos na história dos países onde era recebido e tratado como herói. Provavelmente nem sequer chegaríamos a tão provecta idade, tal era a eficácia do aparelho repressivo nas terras dos “amanhãs que cantam”.
Cunhal foi o protagonista de um entendimento totalitário da política. Em absoluto, nem melhor nem pior, apenas uma concepção diferente daquilo que se convenciona chamar normalidade política… E há-a dos “dois lados”. O que não se pode, nem deve, é branquear tais factos e promover o líder comunista a algo que ele próprio jamais poderia pretender ter sido. Cunhal não foi nenhum santo (nem sequer para os seus camaradas opositores internos), nem me parece que, honestamente, a tal jamais tenha almejado.
Morreu todavia um Combatente de uma Causa, que por ela de tudo abdicou, e isso como atrás se disse vai sendo coisa rara.
De tudo o que ontem se passou, impressionou-me, porém, a militância vermelha que invadiu Lisboa.
Que exemplo! Confesso a minha inveja (bem sei que é feio…) e a frustração perante o comodismo das nossas gentes, que nem sequer se dispõem a lutar pelo que acreditam.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais uma vez fiquei surpreendido pela positiva pelos seus comentários...

Não esperava que disse-se bem do cunhal, mas mesmo assim, sempre uma visão extremamanet lucida dos factos...

Confesso que eviteii ver as noticias no telejornal sobre o funeral, porque também já esperava uma faluencia dessas... na se percebe... a resposta, amanhã lá veremos quantos teremos na nossa manifestação... eu tou lá, e de bandeira em haste!