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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

REBATENDO COMENTÁRIOS... CARTA A UM EX-CAMARADA

No seu blog, o meu colega de faculdade e ex-camarada (posto que se afirma afastado da política activa e do nacionalismo onde ardentemente militou) Miguel Castelo Branco , não obstante afirmar amiúde nada pretender contribuir para o campo sociologicamente e tradicionalmente designado de "direita", por ao chegar à sua idade se ter remetido a uma espécie de monaquismo urbano (decisão que é sua e que, naturalmente, deve ser respeitada) não resiste (o "bichinho" da política é terrível, ainda que o não queira reconhecer...), igualmente amiúde, a opinar sobre algo de que, por moto próprio, se afastou.
Revisitas Miguel, num post recente, o nosso saudoso Rodrigo Emílio para a ele ires recolher três problemas que nos assolavam: "a Direita portuguesa padece de três taras atávicas: a tara moralona, a tara jurídica e a tara autoritária". Para concluires que "o vulgo que se reivindica «de direita» tem uma inclinação incontrolável para o psitacismo [Trata-se de uma perturbação psiquíca que consiste em repetir as palavras sem ter em mente as ideias por elas representadas. Na realidade, Miguel, possuidor de elevada cultura, sempre tiveste tendência para o uso de palavras que os teus leitores/ouvintes nem sempre entendem, aqui fica o esclarecimento para que possa ser entendido] dos «valores», uma reverência quase supersticiosa perante a «lei» e uma adoração servil pela autoridade."
Parece, porém, que na tua vontade de zurzir o pau (desculpa-me esta reminiscência das polémicas sergianas...) contra com quem acamaradaste (como dizia o nosso Rodrigo Emílio), confundes a tara moralona do Rodrigo com os teus «valores» e daí equiparas-nos a todos a sacristães e a mim, em particular, a quem a LEI e o AUTORISTARISMO agradam, de causídico e homem de cajado.
Ora francamente Miguel, não fora a tua fúria contra o "nacionalismo", que não sei bem de onde provirá..., e saberias bem que são coisas bem diferentes. Não podes nem deves tomar "a nuvem por Juno", como bem sabes. Já no teu tempo de militância nacionalista tantas vezes abundavam os truísmos (tantas vezes teus e meus) e falhavam o pensamento e a criatividade... que, no nosso saber e boa vontade, tentávamos ultrapassar.
Quanto à quase "total ausência de humor", conheces-me e sabes o que penso sobre o assunto, mas decididamente não me parece que devam ser os blogs nacionalistas o local exacto para tais manifestações. Quanto às ousadias de erotismo igualmente me parece, a existirem, não deverem ter aí lugar. Mas isso digo eu que, embora ache que não, se calhar sou um moralão... Moralão não serei, seguramente, mas prezo como bem sabes os VALORES e sem eles, caro Miguel, nada nos distinguirá dos demais animais.
De qualquer modo as críticas são sempre fáceis, o mais complicado é fazer... mas dessa tarefa quiseste tu demitir-te.
Um abraço

5 comentários:

Combustões disse...

Humberto:
O texto não tinha, obviamente, qualquer destinatário, muito menos a tua pessoa. Estou, como te disse, a preparar um trabalhinho sobre as direitas portuguesas desde 1961 e deparei com um sem número de escritos que parecem ter saído da mesma mão...ao longo de 40 anos. O Manuel Azinhal já o tinha dito, como o misterioso Jansenista abordou por duas vezes a questão. Não disse nada de novo que eu, tu e tantos outros não saibam, pelo que as minhas palavras em NADA se colam a quem as não merece.Referia-me, sem dúvida, a uma sub-cultura que teima em não largar. As ideias pertencem ao tempo, o tempo passa e as ideias envelhecem. Lembro que quando o Jaime Nogueira Pinto, o Nuno Rogeiro e outros que se atreveram trazer ar novo foram apodados de iconoclastia. Eu não tenho o bichinho da política porque não tenho qualquer vontade de retornar à actividade política. Posso discordar com muitas posições, mas não deixo de apontar que o grupo em que militas, para bem e para mal (o valorativo é meu) é o único que terça armas pela sua dama. O facto de não me identificar com as ideias nada interfere na serena avaliação da entrega, da militância e na iniciativa. Querias maior elogio ? Pois, aqui está. Lembro que ainda há semanas, num texto que o Walter Ventura publicou nas colunas de O Diabo, eu dizia-o de forma clara.
Lamento que o conjunto das direitas - a liberal, a conservadora, a católica, a tradicionalista, a revolucionária - ainda não tenham compreendido que fazer política não deixa de implicar habilidade e capacidade de dialogar com as manifestações do tempo presente. Podemos fazer leituras críticas do tempo presente, mas oferecer a contrapartida. O que lamento é o medo de criar fora de baias já estabelecidas. Quanto ao autoritarismo e ao sacristanismo referia-me, sem dúvida, ao sonho [sebástico] de um regresso ao Portugal dos anos 30. Estamos em 2006, pelo que resistir à passagem do tempo, fingindo que nada mudou, só acentua a incomunicabilidade. Era isto, em suma, o que pretendia dizer.
Vá lá, não fiques zangado, pois, no fundo, não seu nem INIMIGO, nem APÓSTATA nem TRAIDOR. Os inimigos são muitos, os apóstatas estão aí pelos partidos e os traidores estão sempre dentro das nossas paredes. Sinto-me livre de ideologismos, pelo que a coerência que se pede - outro nome para a disciplina partidária - não se me pode exigir.
Um abraço do
Miguel

�ltimo reduto disse...

"Estou, como te disse, a preparar um trabalhinho sobre as direitas portuguesas desde 1961"

Isso vai de 1961 até quando? Verifico com agrado que os tempos correm profícuos a teses sobre a direita extra-parlamentar, que ao que sei está aí um mestrado mesmo a sair...!
Abraço a ambos,
Pedro

Combustões disse...

É uma coisa sem grande fôlego, um opúsculo de 60 ou 70 páginas. O Humberto até sai bem tratado. Tu também lá estás...com o saudoso Bernardo Guedes da Silva. Não se circunscreve à "extrema-direita" (o CDS era de extrema direita em 1974).É uma reflexão sobre o defeito da torre de marfim, a floresta das siglas, as mutações e hesitações do CDS, a incapacidade de formular um discurso que motive votos, o peso de um Salazar ausente, o copismo superficial e, também,o medo de mudar vestimentas antigas.

Combustões disse...

Já agora...o meu texto foi publicado na 5ª feira, o dia em que um senhor dos valores recorreu ao velho sistema de pinchar a cruz branca na porta de uma pessoa de grande qualidade, entregando-a ao "braço secular". Sabes a quem me estou a referir, não sabes ? Tenho ou não razão, Nuno? Bem, vou continuar a 3ª Década da Ásia. Essa, ao menos, tresanda de heroísmo e batalhas olhos-nos-olhos. Um abraço.

�ltimo reduto disse...

"É uma coisa sem grande fôlego, um opúsculo de 60 ou 70 páginas. O Humberto até sai bem tratado. Tu também lá estás..."

Bom, isso então interessa-me! Aguardo convocatória para o lançamento, :-)
Um abraço.