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terça-feira, 22 de março de 2005

O ‘NÃO’ QUE PODE EMBARAÇAR A EUROPA

Parece ser cada vez mais, neste nosso incaracterístico século XXI, um facto que a democracia deixou de saber conviver com eleições que possam ser verdadeiramente democráticas, em que as pessoas se mobilizem e debatam ideias (ideias, esse perturbante inimigo da democracia…). Parece, no mínimo, um paradoxo.

Acompanho, nas minhas meditações, as inúmeras vezes em que os ditos “democratas” se revelam irados com a maçada que pode constituir uma escolha não padronizada, seja de partidos, seja em qualquer outra consulta. É a ditadura do politicamente correcto, do que se deve (acho que cada vez mais apenas é: o que se tem que perguntar, democracia oblige…) perguntar apenas, e só, para se receber a resposta desejada. Perguntar é para os democratas de hoje um insuportável fardo, seguramente porque continuam a existir pessoas que gostam de pensar, de discutir e que não se recusam a enquadrar nas “escolhas de mais do mesmo”.

Assolam-me estas cogitações ao ler o crescendo de notícias – e democrática preocupação, naturalmente – sobre a hipótese da vitória do “não” em França no próximo dia 29 de Maio. Estremecem as instituições; reerguem-se ancestrais temores; questiona-se o novo império (há longos anos que lembro que não há impérios eternos e que este não é excepção) para não sei quantos anos, desta feita plutocrático, e tal como quase todos os anteriores feito à revelia das populações. E aqui encontra-se o cerne da questão: esta Europa foi sendo construída à revelia das populações, servindo interesses financeiros (in)confessáveis e caminhando paulatinamente para uma crescente perda de influência de Nacionalidades que jamais o desejaram. Os euro-burocratas de Bruxelas preocupam-se, naturalmente, mas estarão prestes a obterem a justíssima retribuição por um monstro que foram alimentando à revelia dos europeus – que pensam representar -, mantendo-os alheados dos verdadeiros propósitos do monstro criado (como me recordo do “Hall 2000” do fantástico 2001 Odisseia no Espaço em rebelião contra os seus criadores) e crentes que uma história de Pátrias soberanas e orgulhosas se abate, ou compra, com uns FEDER, PEC, PEOC’s e outras siglas a que jamais nos habituaremos.

Embora de um tempo em que a francofilia era, ainda, a tendência educacional dominante no nosso País, resvalou-me muito cedo a atenção para o rival do outro lado da Mancha. Mas eis-me agora em contemplação e rendido aos “irredutíveis gauleses”, aos sintomas de vitalidade e de franco debate que invade a sociedade francesa, da “esquerda à direita”, com cisões no seio dos partidos em torno de uma questão que é fulcral - a sobrevivência da França face ao monstruoso tratado que tão democraticamente foi elaborado.

O NÃO cresce em França, atingindo na última sondagem os 52%. É ainda cedo para cantar vitória, naturalmente. As sondagens valem o que valem, mas não podemos esquecer que O ‘não’ que embaraça a França (título quase apocalíptico do “Diário de Notícias” de hoje) pode despertar, como que por efeito simpático, as mentes de muitos europeus noutros países que vendo tal resposta num grande da UE podem, finalmente, ver que é possível dizer não a esta Europa, contrariamente a um fatalismo que é vendido, em Portugal por exemplo, de que nada há a fazer e pois o melhor é votar sim.

Mas porque “embaraça” esta opção a França? Estamos na França, como nos demais países, perante uma consulta ou uma aclamação? Alegam políticos e universitários que o ‘não’, ao representar o chumbo do tratado, traria uma situação muito grave… Mas afinal era uma escolha ou um diktat? Depois os não democratas são quem já bem sabemos, e lá caímos na longa ditadura da esquerda vencedora com os acontecimentos de 1789.

Mas o tempo não é de criticar a França. Os indícios que de lá nos chegam ao invés da escrita dos arautos da tragédia, são um exemplo contra o monolitismo, apatia, cobardia e conformismo reinante na nossa classe política. São um exemplo de que este novo império pode (e deve, acrescento eu) ser contestado. São um exemplo que ainda há pátrias soberanas na Europa que desejam continuar a sê-lo. É, pois, tempo de relembrar César: nos confins da Lusitânia continua a existir um povo que não se deixa governar por quem lhe quer impor dominações espúrias. O voto NÃO é o único que, pelo menos, para os próximos tempos pode impedir a transferência irreversível de poderes que como Portugueses queremos preservar.

Humberto Nuno de Oliveira

1 comentário:

Anónimo disse...

NÃO...até para além da morte !

Gauleiter do Alentejo